quinta-feira, 18 de abril de 2013

Piquenique: receita para uma boa aula


Ter feito o documentário Gira Roda Vira Semente suscitou no grupo um espírito solidário. Nosso último encontro discutiu a pauta  sobre os novos rumos do curta, tais como inscrevê-lo em festivais, promover sua exibição em espaços culturais etc. A reunião aconteceu com um piquenique colaborativo, todos levaram um "pratinho", e não poderia ser diferente, sob a copa das árvores fizemos uma roda, algo que aprendemos com o Projeto Sementinha e pretendemos conservar.
Cada qual com sua singularidade expôs novas ideias, fortificando um ideal comum: continuar a promover a educação popular. Estavam lá Júlia Trommer, Fábio Brito, André Orbacan e eu Fabiana Lima. Participaram também os educadores Lídia Moura, Rose Faria e Victor Dimitrov. Nós redescobrimos uma receita para  tornar a educação mais acessível, a pedagogia da roda, e nada mais conveniente que dividi-la com eles.
A importância de promover a exibição do documentário é incitar na sociedade debates sobre a educação, um tema cujos problemas apontados estão exauridos. Iniciativas de educadores como as de  Tião Rocha, mostram que há inúmeras possibilidades de solução e vem de medidas muito simples e eficazes. Uma delas é identificar o potencial de cada pessoa dentro da própria comunidade, envolvendo-as nesse papel.
Como exemplo, há uma história que ele conta. Aconteceu em Araçuarí, uma cidade rural do norte de Minas Gerais (MG). Pelos dados do SIMAVE (Sistema Mineiro de Avaliação de Educação), de 2003, mais de 95% das crianças não sabiam ler, mesmo tendo frequentado a escola até a 8º série. Foi então que no ano seguinte ele resolveu convocar os moradores para socorrê-las. Afinal, era um caso de emergência!  A avó de uma das crianças disse só saber fazer biscoito, não sabia ler. Ela indagava se poderiam ser ajudadas com isso. Tião respondeu: "Podem, aprendem fácil"! Uma coincidência interessante foi quando, estando de saída, perguntou o nome do biscoito: "Minha senhora, qual é o nome do biscoito? 'Biscoito escrevido' ". Não poderia ter sido uma coincidência melhor.
Não teve jeito, as crianças aprenderam o nome fazendo formato de letras com a massa do biscoito. O melhor é que podiam comer depois de assados, ouvi dizer que são deliciosos. O sabor de aprender, certamente era muito especial. Lembro-me quando criança minha mãe fazia sopa de letrinhas, aprender assim era saboroso também!
A máxima de Tião é que aprender deve ser divertido e não um peso, dividir responsabilidade com a comunidade não é eximir os órgãos competentes do dever de proporcionar educação de qualidade, é incluir a comunidade nesse processo. Conscientizar a população que a capacidade de aprender e ensinar não é um dom individual , mas que as pessoas não aprendem de uma mesma forma, é mostrar-lhes os caminhos diversos, e eles nunca se esgotam. Cientes disso, podem questionar o modelo atual de ensino,  se cabe mudanças e quais mudanças.
Assim como no piquenique, quando todos colaboram, tudo fica mais leve. Essa é a receita para um boa educação. Mas afinal, qual a receita do biscoito escrevido dada na pedagogia da roda e o que é pedagogia da roda? Essa pauta vai ficar para o próximo piquenique, porque aprendi que uma boa aula nunca termina ou começa com respostas, mas começa e termina sempre com mais perguntas.








terça-feira, 19 de março de 2013

Escola sem portas, sem parede, sem professor

Você já pensou numa escola sem muro, sem porta, sem janela e sem professor?
A imagem que se desenha na mente é triste, mas na realidade não é bem assim. A ideia partiu de um homem cuja vivência acadêmica já havia esgotado sua crença no modelo tradicional de educação. Depois de ter adquirido título de doutor na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ter trilhado uma carreira como professor na Pontifícia Universidade Católica- PUC, de Minas Gerais, Tião Rocha resolveu abandonar tudo para ser educador.
Esse título só foi incorporado ao compreender que as atuais instituições de ensino não cumpriam o papel principal: educar para a vida. Uma educação na qual o ensinamento corresponda às necessidades do dia a dia, que se correlacione com a realidade do indivíduo. Desse modo, Tião Rocha viu na educação popular uma forma de inclusão, sobretudo dos que têm menor renda, entretanto sua luta vai para além: é na escassez de recursos que a criatividade aflora, ela não deve ser impeditivo para a educação, é justamente a partir daí que surge um degrau para iniciativas sustentáveis, ingrediente essencial para tornar possível a educação popular.
Foi então que em 1984 ele funda o CPCD – Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, visando atender crianças de quatro a cinco anos ele lança o projeto piloto: Sementinha. O município de Curvelo, situado no Estado de Minas Gerais foi palco dessa experiência, como não havia creches públicas a intenção era atender às crianças da região, os espaços poderiam ser os mais diversos, como debaixo de um pé de manga!
Isso mesmo, debaixo de um pé de manga, em centros culturais, ou até mesmo na casa de um morador do bairro. O lugar não é o mais importante, o grande diferencial está no que é passado para as criança, são valores básicos, mas de grande relevância para o seu desenvolvimento: autonomia, identidade coletiva, valorização da cultura local etc. 
Nesse modelo o aluno pode e deve questionar, pois não existe uma hierarquia verticalizada, os encontros são em rodas, quebrando a imagem daquele professor que apenas reproduzia informação, para agora incorporar um novo título, o de educador, pois este não traz saberes prontos, mas colabora na produção de conhecimento dando força ao corpo coletivo.
Pouco a pouco vamos contando como o projeto chegou na cidade de Santo André e o que significou para as pessoas.